Fraseologia na Amazônia: cartilha bilíngue revela riqueza das expressões populares de Belém

Projeto da UFRA mapeia mais de 2 mil fraseologismos regionais e lança material inédito durante a COP30

Foi numa dessas buscas por iniciativas culturais autênticas da Amazônia que a equipe do CKS Online soube da existência de uma cartilha bilíngue, desenvolvida por pesquisadores da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA) em parceria com professores do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará (IFPA/Paragominas), que reúne expressões típicas da linguagem popular falada em Belém. Intrigados com a proposta, contatamos a professora Carlene Salvador — coordenadora do grupo de pesquisa em Fraseologia e do referido projeto — para uma entrevista exclusiva. O que encontramos foi muito mais que uma simples coletânea de expressões: trata-se de um trabalho com rigor científico de valorização cultural com projeção internacional.

“Bora dá-lhe!” — Se você é da região metropolitana de Belém, essa expressão deve soar tão natural quanto um bom tacacá na tarde de domingo. Mas o que significa, de fato, esse e outros dizeres tão característicos do paraense? A resposta está em um trabalho inédito e cuidadosamente elaborado por uma equipe de pesquisadores da UFRA e do IFPA: uma cartilha bilíngue que traduz e ilustra o léxico popular belenense, mais especificamente, os fraseologismos que circulam na RMB.

Continua depois da publicidade

“O diferencial está em tratar essas unidades como patrimônio linguístico e cultural, e ainda oferecer uma versão bilíngue, o que é um desafio quando se trata de expressões tão carregadas de sentido local”, explica a professora Carlene Salvador.

Uma cartilha que traduz a alma linguística de Belém. Fruto de cinco anos de pesquisa do grupo “Estudos de Pesquisa em Estudos Lexicais na Amazônia – GELLAM”, coordenado por Carlene Salvador (UFRA) e Davi Pereira de Souza (IFPA), a cartilha traz unidades extraídas do banco de dados do projeto, o qual apresenta mais de 2 mil fraseologismos coletados e organizados com apoio de professores e pesquisadores de diferentes instituições. Para a cartilha, foram selecionados 80 fraseologismos que ilustram a identidade cultural e linguística do povo belenense.

O material será lançado durante a COP30, como um símbolo da identidade linguística da Amazônia. Em vista disso, a obra foi organizada em seções que, no conjunto, simulam a rotina provável de um turista durante o evento, em Belém. Assim, a cartilha inicia, por exemplo, com a seção CHEGOU, MANO(A)?, que marca a chegada à capital, e finaliza com a seção PEGANDO O BECO, cuja expressão popular indica a hora de ir embora.

Dentre as expressões selecionadas, estão:
“Farinha da baguda” – referência à farinha que apresenta caroços grandes e é muito consumida pelo povo de Belém.
“Galo duro” – o equivalente a “sem dinheiro”.
“Não, é pão” – afirmação enfática, sinônimo de “com certeza”.
Essas unidades fraseológicas não são apenas curiosidades linguísticas, mas manifestações profundas da cultura e da forma como o povo belenense se comunica e interpreta o mundo.

Tradução, ilustração e colaboração interdisciplinar

A tradução bilíngue das expressões ficou a cargo do professor Me. Moacir Moraes Filho, tradutor juramentado do IFPA. Sua missão foi encontrar equivalentes que transmitissem o sentido e a riqueza cultural das expressões para leitores estrangeiros.

Já a parte visual da cartilha foi elaborada com cuidado pelo professor e doutorando em comunicação visual Luís Gomes (Estácio/FAP), que ilustrou os fraseologismos com imagens baseadas na motivação literal dos itens lexicais, para que o público também possa compreender os significados conotativos de forma criativa.

A vice-coordenação do projeto está sob a responsabilidade do professor Me. Davi Souza, que atua tanto na dimensão teórica quanto nas práticas desenvolvidas com os alunos do curso de Letras.

Os demais colaboradores são discentes do Curso de Letras Português/UFRA, mestrandos e doutorandos que integram a equipe do projeto.

Uma cartilha para o presente — e para o futuro

Com duração total prevista de dez anos, o projeto Formação de Banco de Dados Fraseológicos do Estado do Pará está na metade de sua execução e já demonstra resultados concretos. A cartilha será disponibilizada em duas versões: impressa e digital (em PDF), pelo link https://letrasportugues.ufra.edu.br, ampliando o acesso ao conteúdo e promovendo o reconhecimento do valor da linguagem regional durante um evento de repercussão internacional como a COP30.

Além da função educativa e cultural, o projeto fortalece o papel da UFRA e do IFPA como instituições que integram pesquisa científica e valorização das identidades locais.

“Queremos que os visitantes conheçam o Pará para além da paisagem: que ouçam, sintam e compreendam o jeito único de falar da nossa gente. É uma forma de resistência e orgulho”, reforça Carlene Salvador.

Reconhecimento e engajamento social

A publicação da cartilha representa também um convite à sociedade para valorizar a diversidade linguística brasileira. O CKS Online, ao descobrir esse trabalho, entendeu seu potencial transformador e buscou dar voz a quem está por trás desse grande projeto.

E você, conhece ou já usou alguma dessas expressões paraenses? Que outras deveriam estar na cartilha? Compartilhe com a gente nos comentários e ajude a espalhar essa riqueza linguística da Amazônia!

Profa. Dra. Carlene Ferreira Nunes Salvador
Universidade Federal Rural da Amazônia – UFRA
Instituto Ciberespacial – ICIBE
Curso de Licenciatura em Letras Português
Belém-Pará

Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/0221348031478049

Respostas de 2

  1. Um projeto incrível e feito com muita dedicação de todos os envolvidos. Tenho orgulho da minha filha fazer parte desse maravilhoso momento em equipe. Já estou na espera dessa cartilha. Parabéns!!!!

Deixe o seu comentário

Posts relacionados

plugins premium WordPress