Parauapebas: Prefeito Aurélio Goiano é acusado de intolerância religiosa após falas sobre religiões de matriz africana

"Se as religiões de matriz africanas precisarem do apoio da prefeitura, a Coordenação de Assuntos Religiosos está de portas abertas e um pastor irá recebê-los e ainda vai dizer: Jesus salva, Jesus cura e se liga para você não ir para o inferno!", afirmou o gestor municipal.

O discurso do prefeito de Parauapebas (PA), Aurélio Goiano (Avante), duranteuma sessão solene realizada na Câmara Municipal em homenagem ao Dia Municipal do Evangélico, celebrado na última quarta-feira (11), tem repercutido nas redes sociais. As declarações feitas pelo gestor municipal foram consideradas preconceituosas e discriminatórias em relação às religiões de matriz africana, levando a Federação Espírita Umbandista dos Cultos Afros Brasileiros do Estado do Pará (FEUCABEP) a emitir uma nota de repúdio.

Em sua fala, Goiano fez uma série de afirmações que causaram indignação. Em um dos trechos, ele declarou: “Esse prefeito é terrivelmente temente a Deus. Se as religiões de matriz africanas precisarem do apoio da prefeitura, a Coordenação de Assuntos Religiosos está de portas abertas e um pastor irá recebê-los e ainda vai dizer: Jesus salva, Jesus cura e se liga para você não ir para o inferno!”

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O chefe do Executivo municipal continuou com a mesma linha de pensamento: “Esse prefeito não acredita em nada mais do que Jesus Cristo, o resto, pra mim é resto”. Ao se referir ao Departamento de Assuntos Religiosos (DARP), o prefeito enfatizou que o órgão está a postos para receber, não só as igrejas grandes, mas as igrejinhas, dando a entender que dará apoio financeiro para estas instituições. “Nós vamos cuidar da igreja evangélica nesse município” e acrescentou “nós iremos trabalhar para a nação evangélica e para os irmãos da Igreja Católica Apostólica Romana deste município”. Em contrapartida, enfatizou que para “os demais” o “pastor Gerardo [Teixeira, coordenador do DARP], matador de demônios, está lá para te receber”.

As falas de Aurélio Goiano provocaram imediata reação de entidades representativas das religiões de matriz africana. A Federação Espírita Umbandista dos Cultos Afros Brasileiros do Estado do Pará (FEUCABEP), por meio de seu presidente, Babalorishah Toy Vodunno José Carlos Gadelha Pinheiro, emitiu uma nota de repúdio.

No comunicado, a FEUCABEP repudiou as declarações do prefeito Aurélio Goiano e do diretor de Assuntos Religiosos, Pastor Geraldo, classificando-as como “crimes de racismo religioso previsto em lei”. A Federação afirmou que as palavras proferidas são “inaceitáveis e refletem visão discriminatória e preconceituosa”, não apenas ofendendo os praticantes dessas religiões, mas também “contribuindo para a perpetuação de um ambiente de intolerância e discriminação”.

A nota da FEUCABEP ressalta a importância de líderes políticos demonstrarem respeito e compreensão pelas diversas manifestações culturais e religiosas da sociedade. A entidade exigiu uma retratação pública de ambos os políticos e o reconhecimento do impacto negativo de suas declarações. Além disso, a Federação espera que a Câmara Municipal de Parauapebas tome “medidas apropriadas para abordar essa questão e promover um ambiente de respeito, responsabilidade e responsabilização dos envolvidos”, e conclamou as comunidades de terreiro a se manifestarem em defesa da liberdade de crença e expressão de sua fé.

O episódio levanta um debate sobre a postura de autoridades públicas em relação à laicidade do Estado e ao respeito à diversidade religiosa, garantidos pela Constituição Federal.

Confira a nota de repúdio da FEUCABEP na integra:

A Federação Espírita umbandista dos cultos afros brasileiros do estado do Pará/ FEUCABEP, repudiamos veementemente as declarações proferidas por Aurélio Goiano atual Prefeito da cidade de Paraupebas e o diretor de assuntos religiosos Pastor Geraldo, que cometeram crimes de racismo religioso previsto em lei, contra as religiões de matriz africana, as palavras proferidas durante o discurso no plenário da Câmara do município em questão, são inaceitáveis e refletem visão discriminatória e preconceituosa, assim, tais declarações não apenas ofendem praticantes dessas religiões, mais também, contribuem para perpetuação de um ambiente de intolerância e discriminação.

É fundamental que os líderes políticos demonstrem respeito e compreensão pelas diversas manifestações culturais e religiosas presente em nossa sociedade.

Exigimos que ambos os políticos citados se retratem publicamente por suas declarações e reconheçam o impacto negativo que possam ter causado.

Além disso, esperamos que a Câmara Municipal tome medidas apropriadas para abordar essa questão e promover um ambiente de respeito, responsabilidade e responsabilização dos envolvidos. Conclamamos as comunidades de terreiro e aos sacerdotes e sacerdotizas a se manifestarem contra a discriminação religiosa e a defenderem nosso direito á liberdade de crença e expressão de nossa fé.

Babalorishah toy vodunno
Dr. Honoris Causa.
José Carlos Gadelha Pinheiro, presidente da FEUCABEP.

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