Na curva do rio, livro de estreia da jornalista Regina Rozin, será lançado pelas redes sociais da autora, nesta quarta-feira, 5 de fevereiro. Trata-se de um ensaio ficcional independente que nasceu de sua inquietação diante dos inúmeros casos de escalpelamento (acidentes com barcos) na Amazônia. “Lembro da primeira vez em que vi uma vítima, em 2019. Eu morava em Belém do Pará e fui convidada para um evento da Marinha. Entre os convidados, duas meninas chamaram minha atenção. Elas eram tão novinhas e usavam perucas coloridas de tricô. Pelas extremidades, podia-se ver a ausência de cabelos e algumas feridas. Aquela mistura de cores e tímidos sorrisos me fez lembrar de minha filha, Lya, na época com cinco anos. Porém, naquele instante, eu era incapaz de imaginar o tamanho do sofrimento contido em miúdos sorrisos. Foi desse lugar que nasceu a genuína vontade de contar essa história”, contextualiza Regina.
Nos últimos cinquenta anos, mais de 450 pessoas foram escalpeladas em rios do Pará, norte do Brasil. As mulheres (crianças e jovens) são as principais vítimas por causa dos longos cabelos. Basta uma mecha enroscar-se no eixo do motor, que gira em forte rotação fazendo o barco avançar, para que a tragédia aconteça. O barco, ao que parece o grande vilão da história, na realidade, é o único meio de transporte para centenas de famílias ribeirinhas. É que os rios, nestes locais isolados, são caminhos e estradas para o trabalho, a escola, o hospital, o lazer. “Acredita-se que a principal razão dos acidentes é justamente essa familiaridade com o barco, muitos não percebem os riscos ocultos”, reforça a autora.
Até 1960, quase todas as embarcações eram movidas a remo. A motorização, apesar do avanço, trouxe um problema difícil de solucionar. Como a maioria dos barcos é construída artesanalmente, a embarcação torna-se frágil e baixa para rios profundos, de maré alta. Isso faz com que, durante o trajeto, a água do rio penetre por entre as imperfeições do barco. Para evitar um naufrágio, o passageiro, ou o próprio condutor, tem de se abaixar a um nível muito próximo do motor para retirar a água, momento crítico em que as chances dos acidentes aumentam, especialmente se quem executa a atividade tem cabelos compridos e soltos. Para evitar esses acidentes, a Marinha disponibiliza gratuitamente a cobertura de eixo, mas nem todos cumprem a legislação*.
Em Na curva do rio, a protagonista Vanessa, uma mulher comum lidando com dilemas íntimos, aproxima-se de Laura, Maria, Luana, Iara, Teresa e Ana, mulheres que sofreram acidentes em barcos e tiveram suas vidas por um fio. Este encontro desemboca em profundas reflexões sobre o feminino em diferentes contextos sociais, a partir de vozes pungentes, entre revoltadas e conformadas, frágeis e fortes, apavoradas e destemidas, tristes e felizes, porém gratas e esperançosas. “A natureza, o corpo e o espaço ao redor são descritos com detalhes vívidos, o que torna o texto quase palpável. Esses elementos são utilizados não apenas para criar um cenário, mas também transmitir estados emocionais e tornar concreta a jornada das personagens”, destaca no prefácio do livro, Rodrigo Gurgel, professor de literatura e escrita, crítico literário e autor de cinco livros.
A história desafia o leitor a confrontar temas difíceis e explorar a profundidade das emoções humanas, a partir de uma escrita introspectiva e envolvente, que alterna-se entre passado e presente. “Criei a personagem Vanessa na tentativa de suavizar uma história difícil e dolorosa, apesar de a protagonista também viver seus desafios. Obviamente que minha narrativa não esgota o assunto. Ao contrário, vejo o acender de uma luz sobre um tema que merece nosso respeito e precisa ser conhecido para além das fronteiras da Amazônia”, reforça Rozin.
Sobre o livro:
Na curva do rio divide-se em duas partes. Na primeira, Vanessa se depara com emoções reprimidas e com um corpo que envelhece, mudanças que a assustam. Na tentativa de reconectar-se consigo mesma, ela atravessa sua floresta escura. Nesta jornada, encontra com mulheres como Laura e Maria que sobreviveram a graves acidentes e compartilham valiosos ensinamentos sobre resiliência, força e coragem.
Na segunda parte, Teresa, Luana, Iara e Ana contam, sob diferentes perspectivas, como era a vida antes e após os acidentes: os tratamentos a que foram submetidas, histórias de rejeição, perdão, superação e amor. As personagens mostram que nem mesmo um corpo dilacerado é o fim. Pode ser um recomeço, uma nova história.“Regina Rozin nos mostra, a cada capítulo, como a dor e a experiência de superação de outras pessoas podem influenciar nosso próprio processo de autoconhecimento e cura. E faz isso por meio de uma voz empática e ao mesmo tempo crítica, capaz de refletir sobre a fragilidade feminina em diferentes contextos sociais, sem jamais apelar ao discurso ideológico”, conclui Gurgel.
“Na curva do rio” é o primeiro livro de Regina Rozin / Divulgação
Detalhes do livro
Editora: produção independente (1ª edição, novembro 2024)
ISBN: 978-65-01-22721-4
Categoria: Ficção brasileira (ensaio ficcional)
Idioma: Português
Capa comum: 143 páginas
Idade de leitura: acima de 12 anos
Dimensões: 18x1x12 cm
Valor: R$ 52,70 (+R$ 8,35 de frete para todo o Brasil – registro módico)
Disponível para venda no link da bio da autora: @regina.rozin (Instagram)
Sobre a autora:
Regina Rozin é jornalista, com especialização em Sustentabilidade e Responsabilidade Social e Gestão de Comunicação e Marketing. Trabalhou com rádio, TV e assessoria de imprensa em uma multinacional brasileira. Mora no Rio de Janeiro e dedica-se às suas maiores paixões: a família e a escrita. Na curva do rio, seu livro de estreia, foi concebido em Belém do Pará e escrito entre dois países, Brasil e Uruguai.@regina.rozin (Instagram)
Regina Rozin / Divulgação
Suporte às vítimas:
Cinco porcento das vendas do livro Na curva do rio serão destinados à organização dos Ribeirinhos Vítimas de Acidente de Motor (Orvam). Trata-se de uma instituição sem fins lucrativos que presta serviços de assistência social às vítimas de escalpelamento. No espaço, são realizadas ações que promovem a autoestima, a inserção no mercado de trabalho e apoio psicológico. Além disso, a Orvam oferece oficinas de capacitação profissional, atividades de reintegração social, consultas médicas e recebe doações de cabelo (a partir de 35cm) para a confecção de perucas que são doadas às vítimas. Em Belém (PA), há um ponto de arrecadação de cabelos no Centro Social de Nazaré (NUPS), localizado na Basílica de Nossa Senhora de Nazaré. Outros itens também podem ser doados como toucas de perucas, linhas de costura (Polly preto ou marrom), roupas, sapatos, brinquedos, alimentos não-perecíveis, produtos de beleza e limpeza. As doações também podem ser feitas através de depósito bancário: Banco do Brasil AG 4451-2 CC 16007-5. Mais informações: Instagram:@orvambelem | ongorvam.wixsite.com/orvam
*Lei 11.970, de 6 de julho de 2019, que tornou obrigatório o uso de proteção no motor, eixo e partes móveis das embarcações.